terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poema Paisagem e III (sonho lusitano)

I

Os olhos do meu amor são candeias puras

São casquilhos, graciosos e largos.

Onde repouso. Onde aqueço.

De onde contemplo

A tela rubra sob a tarde e o vento.

II

Os braços do meu amor são porto.

E seu corpo aproa meu corpo à maré.

Sua boca cheira a sal e a sonho

E seus cabelos, vento brando à beir(a)mar.


III ou Sonho Lusitano


O meu amor e eu dançamos sobre verdes esmeraldas

Noturnos e entrelaçados.

Não há outro canto além dos corações que marcam o compasso.

Por eles padeço, por amor desfaço.


A estética do desejo (ou A estética da dor).

Para Pedro

A mercê de tudo o que a mente é capaz de produzir.

O que os olhos vêem o corpo sente arder.

E tudo o que fica é uma lágrima não digerida,

Longe do alcance dos dedos.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


I

There was this young woman

Wishing to be older

Then a mockingbird appeared

And told her to wait.

She said “no, I can’t. My love can’t wait”

And the mockingbird left.

II

There was this old man

Wishing to be young again

Then the mockingbird appeared

And told him to wait

He said “yes, you’re right”

And the mockingbird sat beside him.



quarta-feira, 28 de julho de 2010

para Maria Bethânia

alumia o mar de céu a lua alta

e o peixestrela vagueia


vaga a luz na casa alta

o sobrado é que chora

as águas de Maria


a lua sobe e chove

o peixestrela, nada.

domingo, 18 de julho de 2010

Paisagem


Os olhos do meu amor são candeias puras

São casquilhos, graciosos e largos.

Onde repouso. Onde aqueço.

De onde contemplo

A tela rubra sob a tarde e o vento.

domingo, 6 de junho de 2010

E naquele mesmo ar, antes se respirava Magnólia.

“Uma alameda delas, embaixo da minha janela”.

Era o que Ana dizia quando lhe perguntavam sobre a fotografia na parede ou sobre a infância em Belo Horizonte. Quando completou 12 anos, seus pais lhe deram de presente uma câmera fotográfica e a notícia de que em breve se mudariam para o Rio de Janeiro. Há quase um mês, o pai, Antônio, cumpria aviso prévio numa pequena indústria automotiva local. O irmão, recém-empreiteiro, o havia chamado para trabalhar na cidade dizendo que “nunca falta dinheiro para construção civil”. A mãe, Carolina, que a princípio nem se permitia falar do assunto, a essa altura resignara-se. Chorou durante duas semanas inteiras e até o momento da mudança quase não falou com o marido. Justificou-se pela venda da casa dos pais, herança dela e de Ana, mas todos sabiam de que o desgosto era por desconfiança da boa fé do cunhado. Enquanto isso, Ana fotografava as magnólias. Até pediu ao barbeiro que fizesse uma foto sua ao lado de uma delas. Despediu-se das amigas da escola, da moça da confeitaria, das cores do amontoado de lojinhas que davam ao bairro a impressão de ser uma cidade pequena dentro de outra maiorzinha. E em janeiro daquele ano, mudaram-se.

Foram morar em Lins de Vasconcelos, numa casa pequena de dois quartos. A foto das magnólias metida num porta-retrato barato era para Ana motivo de orgulho e argumento para fazer novas amizades. Na primeira semana de aula, levou as coleguinhas da escola para conhecer a cidade jardim de que tanto falara. Quando o tio que não conhecia foi fazer a primeira visita, foi ela quem fez sala e o levou pela mão até o quarto para ver o retrato. Ele viu como a menina era bonita apesar de um pouco franzina para a idade. Passou a almoçar todos os dias com a família. Dona Carolina não gostava da maneira como ele se interessava pelo dia-a-dia da menina. Chegou a comentar com o marido sobre as perguntas da escola, dos amigos, das brincadeiras, das preferências; mas este lhe respondia que devia ser para tentar agradá-la e que ela devia parar de ver os outros com os olhos tão ruins.

Era quase Carnaval. A perspectiva de estar ali, nesta época do ano, fazia Ana transbordar de excitação e ansiedade. Falava nisso desde sempre e pediu à mãe que lhe fizesse uma fantasia “de moça”. Ela achou graça ver a filha tão crescida.

O vestido de paetês cor-de-rosa dançava no seu corpinho pequeno e magro enquanto pulava na frente do pai tentando convencê-lo. Antônio, que não era muito de Carnaval, disse que tirou o feriado para descansar e Carolina reclamou que estava apertada demais terminando a costura para fora, mas Ana insistiu tanto e estava tão animada que, a contragosto, acabaram deixando que o tio a levasse para ver a festa.

Naquela noite Ana fingiu que era uma flor de magnólia.

Ainda era março quando caiu, desflorada.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Bruna e Pedro, cansados de adiar o passeio, decidiram acordar cedo e encontraram-se na padaria para um café a dois que só pretendia. Como se sabe, há uns que caminham para chegar a qualquer lugar, mas, há sempre aqueles que resolvem caminhar descansados. Eram destes. Vieram os jardins mas o palácio estava fechado. E o outro que havia não deixava entrar rapazes de bermuda. Quanta diferença não fazia um cachecol no mês de junho, não? E para comemorar ela decidiu ir à um café. Efêmero demais, ele disse. Como todas as coisas boas. E por pouco ele quase não bebeu um pouquinho. E então tiveram aquela pausa para as fotos. (Aqui, quem os conhece que o diga, é coisa que sempre convinha dado o modo como o romance se deu). Nesta hora já passava do meio dia. Para ele, ela já não era mais pernóstica; e ela não se incomodava tanto com as garçonetes. De todo modo, ainda bem que o amor não tem adjetivo, pensaram juntos enquanto subiam as escadarias do prédio desejando a tarde que mal começara.