E naquele mesmo ar, antes se respirava Magnólia.
“Uma alameda delas, embaixo da minha janela”.
Era o que Ana dizia quando lhe perguntavam sobre a fotografia na parede ou sobre a infância
Foram morar em Lins de Vasconcelos, numa casa pequena de dois quartos. A foto das magnólias metida num porta-retrato barato era para Ana motivo de orgulho e argumento para fazer novas amizades. Na primeira semana de aula, levou as coleguinhas da escola para conhecer a cidade jardim de que tanto falara. Quando o tio que não conhecia foi fazer a primeira visita, foi ela quem fez sala e o levou pela mão até o quarto para ver o retrato. Ele viu como a menina era bonita apesar de um pouco franzina para a idade. Passou a almoçar todos os dias com a família. Dona Carolina não gostava da maneira como ele se interessava pelo dia-a-dia da menina. Chegou a comentar com o marido sobre as perguntas da escola, dos amigos, das brincadeiras, das preferências; mas este lhe respondia que devia ser para tentar agradá-la e que ela devia parar de ver os outros com os olhos tão ruins.
Era quase Carnaval. A perspectiva de estar ali, nesta época do ano, fazia Ana transbordar de excitação e ansiedade. Falava nisso desde sempre e pediu à mãe que lhe fizesse uma fantasia “de moça”. Ela achou graça ver a filha tão crescida.
O vestido de paetês cor-de-rosa dançava no seu corpinho pequeno e magro enquanto pulava na frente do pai tentando convencê-lo. Antônio, que não era muito de Carnaval, disse que tirou o feriado para descansar e Carolina reclamou que estava apertada demais terminando a costura para fora, mas Ana insistiu tanto e estava tão animada que, a contragosto, acabaram deixando que o tio a levasse para ver a festa.
Naquela noite Ana fingiu que era uma flor de magnólia.
Ainda era março quando caiu, desflorada.