domingo, 28 de junho de 2009

Ana

II

Ana

Ana teorizava sobre o amor enquanto procurava pelo seu, sem encontrar e todavida. Certo dia, pensando que, talvez, pudesse ser o simpático rapaz do moinho a trazer-lhe flores a janela, arranjou-se em seu melhor vestido e foi pass(e)ar por ele até que ele a notasse. Na primeira ela se distraiu, na segunda se envergonhou, na terceira desconversou e só então, ele convidou a entrar e tomar chá. "Vestido é tiro e queda" pensou, e do convite, achou cortês. Sentaram e falaram. Falaram sobre o campo, sobre o tempo, sobre o moinho, sobre eles mesmos e sobre os outros. Cansaram e calaram. Despediram-se sem reservas. Ela foi para casa e ele foi para dentro. Uma quarta-feira mais tarde recebeu num bilhete outro convite: Desta vez, nada de chá, girassóis! Ana desempoleirou-se e do armário tirou outro vestido, mais adequado as tardes de quarta-feira. Despediu-se da mãe com a desculpa de quem não tem e pôs-se a caminho. ( A outra Ana gostou da falta de jeito do menino). Encontraram-se na metade__ e ele estava cheirando a banho. No fim da tarde os girassóis ficavam maiores e mais vermelhos e depois, escureciam. Ela aceitou o namoro achando que o amor era mais, mas que o mais era porque crescia. Passou então a frequentar o moinho. Ele, que nunca achou nada do amor, gostava dos vestidos. E amava.

(Somente mais tarde é que ele diria que vestido vermelho só não vê quem não quer, sem medo de maiores retaliações).

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