domingo, 28 de junho de 2009

De um encontro - ainda adiado

I
De um encontro (ainda adiado)

Pressentindo o equívoco inevitável, dispôs-se a reparar o erro. O caminho lento e rítmico doía-lhe as costas, ou talvez fosse a distância. Pensou em escrever, como nos melhores romances, mas a ansiedade incomodava-lhe a torto e direito. Não tinha muita paciência embora assim a julgassem (graças aos seus traços sutis e porte elegante-curvilíneo). Era novembro, o vento soprava dispersando as nuvens - frio. O sol empalidecia em matizes amarelas e alaranjadas. Os contornos eram belos. Não sem entusiasmo pensara no encontro sob aquela luz, pensara no que diria e nas possíveis reações. Não sem agonia pensara em adiá-la ao máximo, e assim saborear cada segundo, sem maiores conseqüências. Não sem medo, pensara no não. Não sem recortes, pensara na volta, caso a fizesse sozinha. Uma mulher se contorcia dentro dela e do lado de fora, apenas suspirava. Não lhe negaria amor plenamente e não lhe negaria catarses. Manejaria, entre risos e dores, uma liberdade dupla e estariam enlaçados por este único vínculo afetivo e mutável, ao qual cuidariam como a uma semente e esta lhe agradeceria dando os frutos que lhe coubesse e nada mais. E fossem grandes fortes suculentos saudáveis duradouros ou fossem minguados secos ocos fracos e frágeis ao primeiro inverno, iria amá-los como ao homem, como a si e como a todo amor que conhecia. Entrou no primeiro trem para contar isso a ele. Para pedir que esperasse por ela, que entendesse, que compartilhasse e soubesse aproveitar tudo isso que lhe pertencia- e a ele apenas - sem destruir a parte que era dela- e dela somente.

( Existem coisas no amor que só cabem guardar ao coração de uma mulher).

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